O cinema no Brasil existe há pelo menos 129 anos. Em 8 de julho de 1896, no Rio de Janeiro, foi exibida a primeira sessão de cinema no país. Na época, os filmes retratavam o cotidiano europeu em pequenos curta-metragens. Pouco tempo depois, em 19 de junho de 1898, os irmãos italianos Paschoal e Affonso Segreto realizaram uma gravação na Baía de Guanabara, considerada uma das primeiras em solo nacional, consagrando assim o dia 19 de junho como o Dia do Cinema Brasileiro.
A indústria já passou por diversas fases que impactaram a produção e a estética do nosso cinema, resultando em filmes clássicos que marcaram o seu tempo. Em celebração, relembre alguns filmes dos principais movimentos do cinema brasileiro na TVT News.
Primórdios do cinema brasileiro (1896-1907)

O Crime dos Banhados (1914)
Dirigido por Francisco Santos. A reconstituição de um crime real: uma chacina no interior do Rio Grande do Sul matou toda a família de um pequeno proprietário rural, causando comoção na sociedade local e suscitando a dúvida sobre o verdadeiro motivo dos assassinatos.

Braza Dormida (1928)
Dirigido por Humberto Mauro. O pai de Luís Soares (Luiz Soroa) decide enviar o filho ao Rio de Janeiro, para fazer seus estudos. Quando chega lá, no entanto, o jovem não estuda, e gasta todo o dinheiro. Procurando emprego, ele encontra vaga em uma usina, onde logo se apaixona pela filha do chefe. O pai da garota é contrário à relação, e ameaça contar tudo ao pai de Luís se ele não terminar o namoro.

Acabaram-se os Otários (1929)
Dirigido por Luis de Barros. Os moradores do interior Bentinho (Genésio Arruda) e Samambaia (Tom Bill), e o imigrante italiano Xixilo Spicafuoco (Vincenzo Caiaffa) viajam para São Paulo em busca de diversão. Ao chegarem a cidade, são iludidos por um malandro acreditando que compraram um bonde. Sendo assim, o trio acaba caindo no conto do vigário.

Chanchadas e os estúdios Vera Cruz (1930-1950)

As chamadas “chanchadas” mesclavam o humor popular com músicas e paródias de filmes estrangeiros. A dupla icônica de comédia Oscarito e Grande Otelo surgiu durante este período.
A Companhia Cinematográfica Vera Cruz, localizada em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, produziu grandes obras e foi responsável por popularizar o ator Amácio Mazzaropi. O estúdio tinha o objetivo de realizar grandes produções, aos moldes de Hollywood.
Nadando em Dinheiro (1952)
Dirigido por Abílio Pereira de Almeida e Carlos Thiré. Isidoro (Amácio Mazzaropi), depois de um acidente de carro, descobre que é herdeiro único de uma grande fortuna. Muda-se para a mansão herdada e começa a viver como milionário. Num jantar de gala descobre que as pessoas presentes à festa caçoavam de seus modos de novo rico. Isidoro começa a ter uma vida dupla, que acaba provocando uma série de confusões. Quando sua esposa decide deixá-lo, ele lhe conta de sua nova situação financeira pedindo-lhe, em vão, que volte. Triste, ele volta à sua mansão, onde é atacado por robôs que comprara de um investidor.
Contudo, quando os robôs atacam, Isidoro acorda em sua pequena casa ao lado de sua mulher e filha. Nadando em dinheiro, mas…. em sonho.

O Cangaceiro (1953)
Dirigido por Lima Barreto. O bando de cangaceiros do capitão Gaudino (Milton Ribeiro) semeia o terror pela caatinga nordestina. É neste contexto que a professora Maria Clódia (Vanja Orico), raptada durante um assalto do grupo, se apaixona pelo pacífico Teodoro (Alberto Ruschel). O forte amor entre os dois gera grande conflito no bando.

Matar ou Correr (1954)
Dirigido por Carlos Manga. Paródia dos filmes de faroeste, inspirado no clássico de velho oeste Matar ou Morrer, de Fred Zinnemann. Na cidade de City Down, dois vagabundos, Kid Bolha (Oscarito) e Cisco Kada (Grande Otelo), acidentalmente nocauteiam o temido bandido Jesse Gordon (José Lewgoy) e são nomeados xerifes. Mas, o bando de criminosos de Gordon promete voltar para executar a sua vingança contra os dois inexperientes agentes da lei.

Cinema Novo (1960-1970)

“Uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”: sob esse lema, o Cinema Novo surgiu entre 1960 e 1970. Os cineastas brasileiros que seguiam o movimento queriam produzir filmes autorais de baixo orçamento, que expressasse de forma crítica a realidade social, política e econômica do Brasil.
Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos e Cacá Diegues foram alguns dos diretores expoentes da década.
Cinco Vezes Favela (1962)
Dirigido por Marcos Farias, Miguel Borges, Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade e Leon Hirszman. Cinco curtas-metragens dirigidos por cinco cineastas brasileiros distintos, que narram as histórias de personagens que moram nas favelas do Rio de Janeiro. Episódios: Um Favelado, de Marcos Farias; Zé da Cachorra, de Miguel Borges; Couro de Gato, de Joaquim Pedro de Andrade; Escola de Samba Alegria de Viver, de Cacá Diegues; e Pedreira de São Diogo, de Leon Hirszman.
Assista Pedreira São Diogo, um dos curtas de Cinco Vezes Favela, no Looke

Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964)
Dirigido por Glauber Rocha. Manuel (Geraldo Del Rey) é um vaqueiro que se revolta contra a exploração imposta pelo coronel Moraes (Mílton Roda) e acaba matando-o numa briga. Ele passa a ser perseguido por jagunços, o que faz com que fuja com sua esposa Rosa (Yoná Magalhães). O casal se junta aos seguidores do beato Sebastião (Lídio Silva), que promete o fim do sofrimento através do retorno a um catolicismo místico e ritual. Porém ao presenciar a morte de uma criança Rosa mata o beato. Simultaneamente Antônio das Mortes (Maurício do Valle), um matador de aluguel a serviço da Igreja Católica e dos latifundiários da região, extermina os seguidores do beato.
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Macunaíma (1969)
Dirigido por Joaquim Pedro de Andrade. Macunaíma (Grande Otelo) é um herói preguiçoso, safado e sem nenhum caráter. Ele nasceu na selva e de preto, virou branco. Depois de adulto deixa o sertão em companhia dos irmãos e vive aventuras na cidade. Macunaíma ama guerrilheiras e prostitutas, enfrenta vilões milionários, policiais e personagens de todos os tipos.
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Cinema Marginal (1960-1970)

Em contraposição aos rumos do Cinema Novo, surgiu no fim de 1960, o movimento conhecido como cinema marginal. Em meio à ditadura militar, os filmes do “udigrudi”, outro nome dado ao movimento, tinham uma estética experimental, provocadora e transgressora. As obras, que desafiavam o regime da época, eram produzidas principalmente na Boca do Lixo, polo cinematográfico independente no centro de São Paulo, apresentando histórias de pessoas marginalizadas e focadas em temas tabus para a sociedade.
À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964)
Dirigido por José Mojica Martins. O sádico e cruel coveiro Zé do Caixão (José Mojica Marins) pretende gerar um filho perfeito para dar continuidade ao seu sangue. Mas sua mulher não consegue engravidar e ele acaba violentando a mulher do seu melhor amigo. A moça violentada pelo coveiro quer se suicidar, para regressar do mundo dos mortos e levar a alma de Zé do Caixão.
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O Bandido da Luz Vermelha (1968)
Dirigido por Rogério Sganzerla. Livremente inspirado em fatos reais: um assaltante misterioso (Paulo Villaça) usa técnicas extravagantes para roubar casas luxuosas de São Paulo. Ele é apelidado pela imprensa de “bandido da luz vermelha”, já que traz sempre uma lanterna vermelha e conversa longamente com suas vítimas. No entanto, seus roubos e crimes chamam tanta atenção que um implacável policial começa a perseguir o bandido da luz vermelha.

Matou a Família e Foi ao Cinema (1969)
Dirigido por Júlio Bressane. Um rapaz de classe média baixa carioca mata os pais a navalhadas e vai ao cinema ver “Perdidos de Amor”. Márcia, uma jovem rica e insatisfeita, aproveita uma viagem do marido para ir até sua casa de Petrópolis, onde recebe a visita de uma velha amiga, Regina. Intercaladas com as cenas entre elas, que dançam, conversam sobre homens e se acariciam, aparecem pequenas histórias autônomas de assassinatos no interior de famílias pobres. Entre essas crônicas familiares, uma história destoa: a do preso político torturado até a morte.

Pornochanchadas (1969-1983)

Popular na década de 70, as pornochanchadas eram filmes de baixo orçamento que misturavam comédia e um leve erotismo, com piadas maliciosas e de duplo sentido, mas sem cenas explícitas. O termo remetia às chanchadas dos anos 1940, mas repaginadas para o período de liberação dos costumes que o Brasil vivia na época.
Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976)
Dirigido por Bruno Barreto. Durante o carnaval de 1943 na Bahia, Vadinho (José Wilker), um mulherengo e jogador inveterado, morre repentinamente. Sua mulher, Dona Flor (Sônia Braga), fica inconsolável, pois apesar de ter vários defeitos, ele era um excelente amante. Após algum tempo ela se casa com Teodoro Madureira (Mauro Mendonça), um farmacêutico que é exatamente o oposto do primeiro marido. Ela passa a ter uma vida estável e tranquila, mas tediosa, e de tanto “chamar” por Vadinho, um dia ele aparece nu na sua cama.
Ela, então, pede ajuda a uma amiga, dizendo que quase foi seduzida pelo finado esposo. Um pai de santo se prontifica a afastar o espírito de Vadinho, mas existe um problema: no fundo, Flor quer que ele fique, pois ela tem um forte desejo que precisa ser saciado.

A Dama do Lotação (1978)
Dirigido por Neville d’Almeida. Carlos (Nuno Leal Maia) e Solange (Sônia Braga) se amam desde jovens e, após um casto namoro, se casam. Na noite de núpcias, Solange resiste ao seu marido, que impaciente, a violenta. A protagonista fica traumatizada após o episódio, e apesar de ainda desejar Carlos, decide começar a seduzir homens que nunca viu, não verá novamente e nem mesmo sabe seus nomes.
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A Mulher que Inventou o Amor (1980)
Dirigido por Jean Garrett. Incentivada por uma amiga, a estonteante Doralice passa a ganhar a vida fazendo programas. Não demora muito para que ela seja cobiçada pelos homens e, devido a suas habilidades, se transforma na Rainha do Gemido. Porém, a jovem nutre um sonho cada vez mais distante: casar de véu e grinalda.

Embrafilme (1970-1983)

A Embrafilme era uma empresa estatal brasileira criada em 1969, que foi fundamental para o cinema brasileiro. Responsável por fomentar, produzir e distribuir filmes que se tornaram grandes clássicos, a extinção da Embrafilme no início dos anos 90 causou uma grave crise no setor cinematográfico nacional.
Eles Não Usam Black-tie (1981)
Dirigido por Leon Hirszman. Em São Paulo, em 1980, o jovem operário Tião (Carlos Alberto Riccelli) e sua namorada Maria (Bete Mendes) decidem casar-se ao saber que a moça está grávida. Ao mesmo tempo, eclode um movimento grevista que divide a categoria metalúrgica. Preocupado com o casamento e temendo perder o emprego, Tião fura a greve, entrando em conflito com o pai, Otávio (Gianfrancesco Guarnieri), um velho militante sindical que passou três anos na cadeia durante o regime militar.

Pixote, a Lei do Mais Fraco (1981)
Dirigido por Héctor Babenco. Pixote (Fernando Ramos da Silva) foi abandonado por seus pais e rouba para viver nas ruas. Ele já esteve internado em reformatórios e isto só ajudou na sua “educação”, pois conviveu com todo os tipos de criminosos e jovens delinquentes. Ele sobrevive se tornando um pequeno traficante de drogas, cafetão e assassino, mesmo tendo apenas onze anos.
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Cabra Marcado Para Morrer (1984)
Dirigido por Eduardo Coutinho. Início da década de 60. Um líder camponês, João Pedro Teixeira, é assassinado por ordem dos latifundiários do Nordeste. As filmagens de sua vida, interpretada pelos próprios camponeses, foram interrompidas pelo golpe militar de 1964. Dezessete anos depois, o diretor retoma o projeto e procura a viúva Elizabeth Teixeira e seus dez filhos, espalhados pela onda de repressão que seguiu ao episódio do assassinato. O tema principal do filme passa a ser a trajetória de cada um dos personagens que, por meio de lembranças e imagens do passado, evocam o drama de uma família de camponeses durante os longos anos do regime militar.
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Retomada (1990-2000)

Depois do “apagão” no cinema brasileiro que a extinção da Embrafilme causou, a Retomada foi o período de renascimento da produção cinematográfica nacional. Esse retorno das produções foi impulsionado por novas leis de incentivo fiscal, como a Lei Rouanet e a Lei do Audiovisual.
Carlota Joaquina, Princesa do Brazil (1995)
Dirigido por Carla Camurati. Um painel satírico da vida de Carlota Joaquina (Marieta Severo), a infanta espanhola que conheceu o príncipe de Portugal (Marco Nanini) com apenas dez anos e se decepcionou com o futuro marido. Sempre mostrou disposição para seus amantes e pelo poder e se sentiu tremendamente contrariada quando a corte portuguesa veio para o Brasil, tendo uma grande sensação de alívio quando foi embora.
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Cidade de Deus (2002)
Dirigido por Fernando Meirelles e Kátia Lund. Dadinho (Douglas Silva) e Buscapé são grandes amigos, que cresceram juntos imersos em um universo de muita violência. Na Cidade de Deus, favela carioca conhecida por ser um dos locais mais violentos do Rio de Janeiro, os caminhos das duas crianças divergem, quando um se esforça para se tornar um fotógrafo e o outro o chefe do tráfico. Buscapé (Alexandre Rodrigues) é um jovem pobre, negro e muito sensível, que vive amedrontado com a possibilidade de se tornar um bandido, e acaba sendo salvo de seu destino por causa de seu talento como fotógrafo, o qual permite que siga carreira na profissão.
É através de seu olhar atrás da câmera que Buscapé analisa o dia-a-dia da favela onde vive, enquanto Dadinho, agora Zé Pequeno (Leandro Firmino), se torna o temido chefe do tráfico da região, continuando com o legado de violência que remonta a décadas anteriores – e parece ser infinita.
Assista no Max, Paramount+, Netflix, Globoplay ou Telecine

O Que É Isso, Companheiro? (1997)
Dirigido por Bruno Barreto. O jornalista Fernando (Pedro Cardoso) e seu amigo César (Selton Mello) abraçam a luta armada contra a ditadura militar no final da década de 60. Os dois alistam num grupo guerrilheiro de esquerda. Em uma das ações do grupo militante, César é ferido e capturado pelos militares. Fernando então planeja o sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick (Alan Arkin), para negociar a liberdade de César e de outros companheiros presos.
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Pós-Retomada (a partir de 2000)

O período de pós-retomada do cinema brasileiro, que iniciou em 2000, é o momento que demonstra a consolidação e diversificação da produção cinematográfica nacional. É considerado o período atual do cinema, em que é possível observar a variedade de gêneros e a diversidade de linguagens e histórias que a sétima arte nacional nos presenteia.
Que Horas Ela Volta? (2015)
Dirigido por Anna Muylaert. A pernambucana Val (Regina Casé) se mudou para São Paulo a fim de dar melhores condições de vida para sua filha Jéssica. Com muito receio, ela deixou a menina no interior de Pernambuco para ser babá de Fabinho, morando integralmente na casa de seus patrões. Treze anos depois, quando o menino (Michel Joelsas) vai prestar vestibular, Jéssica (Camila Márdila) lhe telefona, pedindo ajuda para ir à São Paulo, no intuito de prestar a mesma prova. Os chefes de Val recebem a menina de braços abertos, só que quando ela deixa de seguir certo protocolo, circulando livremente, como não deveria, a situação se complica.
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Ainda Estou Aqui (2024)
Dirigido por Walter Salles. No início da década de 1970, o Brasil enfrenta o endurecimento da ditadura militar. No Rio de Janeiro, a família Paiva – Rubens (Selton Mello), Eunice (Fernanda Torres) e seus cinco filhos – vive à beira da praia em uma casa de portas abertas para os amigos. Um dia, Rubens Paiva é levado por militares à paisana e desaparece. Eunice – cuja busca pela verdade sobre o destino de seu marido se estenderia por décadas – é obrigada a se reinventar e traçar um novo futuro para si e seus filhos.
Assista no Globoplay

O Agente Secreto (2025)
Em 1977, Marcelo (Wagner Moura) trabalha como professor especializado em tecnologia. Ele decide fugir de seu passado violento e misterioso se mudando de São Paulo para Recife com a intenção de recomeçar sua vida. Marcelo chega na capital pernambucana em plena semana do Carnaval e percebe que atraiu para si todo o caos do qual ele sempre quis fugir. Para piorar a situação, ele começa a ser espionado pelos vizinhos. Inesperadamente, a cidade que ele acreditou que o acolheria ficou longe de ser o seu refúgio.

Viva o cinema nacional!