Jair Bolsonaro é apontado como integrante do “centro decisório” do esquema ilegal de espionagem
Nesta quarta-feira (18), o ministro do STF, Alexandre de Moraes, retirou o sigilo do relatório da Polícia Federal (PF) sobre a “Abin paralela”, o esquema que envolvia espionagem ilegal de pessoas consideradas, pelo governo Bolsonaro, como adversárias. Saiba mais em TVT News.
Jair Bolsonaro e seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) são apontados como potenciais integrantes do “núcleo político” da Abin paralela. De acordo com a PF, esse grupo incluía outras “figuras de alto escalão do governo à época” e era responsável por determinar os alvos das ações clandestinas e se beneficiar politicamente das operações. O relatório define o grupo como o “centro decisório e o principal destinatário das ‘vantagens ilícitas’”.
De acordo com a investigação, o “núcleo de execução” era liderado por Alexandre Ramagem (PL-RJ), que foi diretor-geral da Abin. Ramagem estruturou o esquema de espionagem ilegal de pessoas consideradas adversárias pelo ex-presidente, segundo a investigação. A PF diz que os integrantes desse grupo executavam diretamente as ações clandestinas em benefício do núcleo político, do qual Bolsonaro e seu filho faziam parte.

A atual direção da Abin teria agido para atrapalhar as apurações, que se desenrolaram sob o governo Lula. Luiz Fernando Correa, atual diretor-geral, é apontado como integrante do “núcleo de embaraçamento da investigação”, junto com funcionários atuais e antigos da agência.
De acordo com a PF, o grupo atuou para “dificultar as investigações sobre a Orcrim [organização criminosa]”, por meio de “ações para assediar e desacreditar a ex-Corregedora, omissão sobre operações ilegais e potencial manipulação de informações e procedimentos internos”.
O relatório conclui que há “indícios suficientes de autoria e prova de materialidade” dos crimes cometidos. Segundo a PF, “as diligências policiais realizadas resultaram na identificação de organização criminosa responsável pela apropriação da Abin”.
De acordo com o STF, a decisão de retirar o sigilo foi tomada após a constatação de vazamentos seletivos de trechos do relatório policial, que resultaram em matérias contraditórias na imprensa. Para Moraes, a continuidade de vazamentos seletivos pode prejudicar a instrução processual. Foi mantido o sigilo apenas das petições relacionadas a dados bancários e fiscais dos investigados.
O que é a Abin paralela
A Polícia Federal investiga um esquema de espionagem ilegal que ocorreu na Agência Brasileira de Informações (Abin) durante o governo Bolsonaro. Os investigadores apontam que a agência foi utilizada para fins políticos e pessoais de Bolsonaro e seus aliados.
A investigação da Abin paralela começou após reportagem publicada pelo jornal “O Globo” em 14 de março de 2023, em que a agência confirmava o uso de um programa secreto para monitorar alvos específicos. Em 12 de junho de 2025, a PF encaminhou o relatório final da investigação ao STF.
Em 12 de junho, o relatório da PF foi entregue ao STF com o indiciamento de 36 pessoas, dentre elas o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) e o delegado federal Luiz Fernando Corrêa, atual diretor-geral da Abin. Apesar de ser mencionado no documento, Jair Bolsonaro não está na lista de indiciados, porque já está sendo indiciado no inquérito do golpe.