A inteligência artificial já não é uma promessa futura. Com apenas alguns cliques, qualquer pessoa pode criar fake news
Artigo do publicitário, especialista em marketing político, Christian Jauch, analisa importância da regulação das redes para as eleições de 2026. Leia o artigo completo na TVT News.
Eleições 2026: a batalha entre algoritmos, desinformação e regulação
Por Christian Jauch
Inspirado pela minha participação no workshop “Processo Eleitoral e Inteligência Artificial: lições para ampliar a qualidade democrática do voto”, dentro do 15º Fórum da Internet no Brasil, escrevo este artigo como uma reflexão pessoal e provocativa sobre os desafios que enfrentaremos nas eleições de 2026. O evento, realizado pelo CGI.br e NIC.br, é hoje o principal encontro sobre governança da Internet no país, reunindo especialistas de várias áreas.
Como comunicador e observador atento da política e da tecnologia, saí do evento com uma certeza inquietante: enquanto a inteligência artificial avança a passos largos, a legislação, a fiscalização e a consciência social sobre seus impactos ainda andam a passos de tartaruga.
A IA corre, a democracia tropeça
A inteligência artificial já não é uma promessa futura — ela está moldando o presente. Com apenas alguns cliques, qualquer pessoa pode criar vídeos falsos, vozes sintéticas e mensagens hiperpersonalizadas que parecem reais. Isso muda tudo no jogo político.
O problema é que nossas leis, nossa capacidade de fiscalização e até mesmo nosso entendimento coletivo sobre o que está acontecendo ainda estão muito atrás. Como garantir a integridade de um processo eleitoral que pode estar seriamente em risco, influenciado por dinâmicas digitais e algoritmos de comunicação que moldam opiniões sem que a maioria das pessoas perceba ou compreenda?
Não se regula o que não se entende
Esse talvez seja o ponto mais crítico de todos: só conseguimos combater aquilo que conhecemos. E hoje, uma parcela muito pequena da sociedade entende de fato como funcionam os algoritmos, os sistemas de recomendação, os robôs de conversa e os mecanismos que direcionam — ou distorcem — o debate público.
Se não sabemos como essas tecnologias atuam, como podemos criar leis para regulá-las? Como podemos garantir que o voto continue sendo livre e consciente?
Se você quer entender melhor o que de fato é (e o que não é) a chamada inteligência artificial, recomendo a leitura de um dos meus textos mais acessados no blog: “Inteligência Artificial Não Existe“
Antes de pensarmos em soluções, precisamos entender a natureza do problema.
A crise de confiança nas informações
Vivemos um colapso do senso comum. Não há mais consenso nem sobre os fatos mais básicos. Cada pessoa é exposta a uma realidade diferente, moldada por algoritmos que entregam exatamente o que ela quer ouvir — ou pior, exatamente o que a fará reagir com raiva, medo ou indignação.
Isso torna o ambiente perfeito para a desinformação. E pior: a desinformação deixou de ser um problema colateral e virou estratégia central de muitas campanhas.
A política precisa reaprender a dialogar
Enquanto os algoritmos aprendem a falar como a gente — com memes, ironia, emoção — a política institucional muitas vezes ainda se comunica como se estivéssemos nos anos 1990. A linguagem precisa se reconectar com as pessoas, com o cotidiano, com o que é palpável.
Não adianta apenas criar leis: é preciso reconstruir pontes de escuta e fala que não dependam exclusivamente de plataformas e seus interesses comerciais.
Educação digital é urgente (pra ontem!)
Mais do que regras, precisamos de formação. Educação digital deveria ser política pública prioritária. As pessoas precisam aprender a desconfiar, a investigar, a comparar fontes e a questionar o que veem — especialmente em época de eleição.
Afinal, o voto só é livre quando é consciente. E a consciência exige informação de qualidade e pensamento crítico.
O que está em jogo em 2026?
Não é só quem vai vencer a eleição. É se essa escolha será de fato do eleitor — ou se será um reflexo de sistemas automatizados que manipulam dados e emoções sem que ninguém perceba.
Temos pouco tempo. A IA está se sofisticando. A manipulação está ficando invisível. E a legislação ainda está tentando entender qual é a pergunta.
Mas ainda dá tempo. Se a gente correr. Se a gente estudar. Se a gente debater. Se a gente agir.
Porque esse avião chamado democracia já está no ar — e não podemos deixar que ele caia em nuvens de desinformação e omissão.
Conclusão: ética, cultura digital e o peso da autorresponsabilidade
Se tem algo que ficou claro ao longo dessa reflexão é a frase da professora Marilda Silveira (IDP), dita no FIB15: “não existe ética onde não existe autorresponsabilidade”. O processo democrático não depende apenas de regras bem escritas ou de tecnologias bem usadas — ele exige consciência individual, postura crítica e vontade de se informar.
Um dos maiores desafios que temos no Brasil é cultural: a massa se digitalizou antes de se alfabetizar. O acesso ao celular e à internet chegou antes do pensamento crítico, da leitura constante e da compreensão dos riscos. É por isso que vemos, todos os dias, pessoas caindo em golpes virtuais, acreditando com facilidade em fake news, e se envolvendo em esquemas de apostas como os “bets” e os famigerados “tigrinhos”.
Essa combinação — tecnologia sem formação — é um campo fértil para a manipulação e o colapso da democracia.
Portanto, que 2026 seja mais do que uma data eleitoral: que seja um marco de virada na forma como educamos, nos responsabilizamos e escolhemos o futuro que queremos construir.
Sobre o autor
Christian Jauch é um publicitário com mais de 20 anos de experiência, especializado em branding, design, inovação, tecnologia, inteligência artificial, automação de processos, marketing político e comunicação governamental.
Com passagens pela Secretaria de Portos e Câmara Municipal de Santos, além da Câmara dos Deputados em Brasília, destaca-se pela atuação estratégica que une criatividade e tecnologia para gerar resultados. No setor corporativo, colaborou com grandes marcas como Peugeot Brasil, Ministério do Turismo e empresas de logística e terminais portuários.
No campo político, coordena campanhas eleitorais em todas as esferas e há mais de 12 anos lidera campanhas da OAB em sua região, consolidando-se como um estrategista de alta performance e inovação.
Outras reflexões sobre o tema podem ser lidas no blog: www.christianjauch.com.br/blogpolitico.
Os artigos dos colunistas expressam as opiniões individuais da autora ou do autor e não, necessariamente, refletem a opinião da TVT News