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85 anos da morte de Trotsky, rival de Stalin que pregava a revolução permanente
Trajetoria do líder evidencia choque entre a revolucão permanente e o socialismo em um só pais, que marcou a história do século 20
Nesta quarta-feira (21), completam-se 85 anos do assassinato de Leon Trotsky, uma das figuras mais marcantes da Revolução Russa de 1917 e rival direto de Josef Stalin na disputa pela sucessão de Vladimir Lenin. Nascido Lev Davidovich Bronstein, em 1879, na atual Ucrânia, Trotsky ingressou cedo no movimento revolucionário e foi um dos principais dirigentes bolcheviques. Ao lado de Lenin, conduziu a insurreição de outubro que derrubou o governo provisório e abriu caminho para a construção do primeiro Estado socialista do mundo.
A consagração de Trotsky veio com a criação do Exército Vermelho. À frente da organização militar revolucionária, comandou as tropas na guerra civil entre 1918 e 1921, enfrentando forças internas e externas contrárias ao novo regime. Segundo o historiador Isaac Deutscher, um dos seus principais biógrafos, Trotsky mostrou “energia inesgotável e talento organizador que transformaram a improvisação em exército” (Deutscher, O Profeta Armado).
Com a morte de Lenin em 1924, Trotsky era apontado como um dos favoritos à sucessão. No entanto, perdeu espaço diante da ascensão de Stalin. O centro do embate estava nas concepções distintas sobre o futuro da revolução: Trotsky defendia a “revolução permanente”, ideia de que o socialismo só sobreviveria se se expandisse internacionalmente, enquanto Stalin consolidava a tese do “socialismo em um só país”, que buscava priorizar a estabilidade interna da União Soviética.
O confronto entre as duas visões resultou no isolamento de Trotsky. Expulso do Partido Comunista em 1927, ele foi exilado da União Soviética em 1929. Passou por diversos países até encontrar refúgio no México em 1937, convidado pelo governo de Lázaro Cárdenas. Instalou-se na Casa Azul, residência da pintora Frida Kahlo e do muralista Diego Rivera. Durante esse período, manteve um breve envolvimento com Frida, segundo relatam biógrafos da artista e do próprio revolucionário.
A vida no exílio foi marcada pela perseguição. Stalin não tolerava a existência de um opositor de projeção internacional. Em agosto de 1940, Ramon Mercader, agente espanhol recrutado pela polícia secreta soviética, aproximou-se de Trotsky infiltrando-se em seu círculo pessoal. No dia 20, penetrou em sua casa e o atacou com uma picareta de alpinista. Trotsky morreu no dia seguinte, 21 de agosto, aos 60 anos.
“Trotsky foi assassinado, mas não silenciado”, escreve o historiador britânico Eric Hobsbawm. Para ele, a morte simbolizou não apenas o triunfo de Stalin sobre seus rivais, mas também “a consolidação de um regime que se apresentava como herdeiro da revolução, ao custo de liquidar seus próprios fundadores” (Era dos Extremos).
O legado de Trotsky, entretanto, não desapareceu com sua morte. No México, ainda hoje sua casa em Coyoacán, transformada em museu, preserva os vestígios de um dos principais líderes da Revolução Russa. No plano político, suas ideias seguiram influenciando gerações de militantes e partidos, especialmente após a fundação da Quarta Internacional, em 1938, que buscava unificar os movimentos socialistas sob uma perspectiva revolucionária e internacionalista.
O trotskismo e sua influência na esquerda mundial e brasileira
O pensamento de Leon Trotsky ultrapassou sua biografia e se consolidou como uma das correntes mais persistentes da esquerda ao longo do século XX. Seu princípio da “revolução permanente” e a defesa da democracia operária inspiraram diversos partidos e organizações pelo mundo, sobretudo em países da América Latina, onde o trotskismo se enraizou de maneira particular.
No Brasil, essa tradição influenciou grupos desde a década de 1930. Nos anos 1970 e 1980, correntes trotskistas tiveram papel ativo nas lutas contra a ditadura militar e participaram da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT), embora muitas vezes em confronto com outras tendências. Hoje, organizações como o PSTU e correntes internas do PSOL reivindicam o legado de Trotsky.
Em entrevista publicada pelo site Carta Maior, o historiador e militante Valério Arcary ressaltou a importância da memória trotskista: “A história agigantou a estatura e celebramos a sua memória com respeito e admiração. Sua vida e obra são uma inspiração insubstituível. Mas não alimentamos cultos.”
Ao mesmo tempo, o trotskismo também enfrenta críticas de outras correntes socialistas. O filósofo Perry Anderson observa que a insistência na revolução permanente mostrou-se “politicamente inviável” em muitos contextos nacionais, levando a derrotas ou isolamento de partidos trotskistas. Já Hobsbawm avaliava que o trotskismo se tornou, ao longo das décadas, “uma tradição de minoria”, importante pela força moral da crítica, mas sem a mesma capacidade de direção política ampla.
Apesar dessas limitações, a influência do trotskismo é inegável. Seja nas análises críticas ao stalinismo, seja no esforço de manter viva a ideia de uma revolução internacional, Trotsky deixou marcas que ainda ecoam. No Brasil, a presença de suas ideias no sindicalismo, em partidos de esquerda e nos debates intelectuais garante que sua memória esteja associada à luta por um socialismo democrático e internacionalista.
O assassinato de Trotsky há 85 anos não encerrou o debate em torno de sua figura. Pelo contrário, sua morte violenta, a mando de Stalin, cristalizou-o como símbolo de resistência à burocratização e à repressão dentro do próprio campo socialista. Hoje, em meio a novas crises mundiais, sua trajetória continua a ser revisitada como inspiração e também como objeto de polêmica.
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