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terça-feira, 05 de agosto de 2025 -

Venezuela reúne as vozes do mundo e do sul global

Uma crônica sobre o encontro de comunicadores do sul global promovido pela Venezuela

Venezuela é a pátria de Simón Bolívar, o Libertador e um dos líderes da luta pela América Latina independente e unida. É com esse simbolismo que aconteceu, dias 30 e 31 de julho, o evento Vozes do Mundo, encontro de comunicadores do Sul Global. A TVT News esteve no fórum e conta como foi.

Crônica de Alexandre Barbosa, enviado especial a Caracas

Venezuela de Bolívar e do Sul Global

Mais de 120 jornalistas e comunicadores, de 50 países, se reuniram na Venezuela entre os dias 29 e 31 de julho para dar início à aliança de comunicadores do Sul Global no evento batizado de Vozes do Mundo.

A Venezuela entende que há uma luta de classes que se estabelece entre a imprensa hegemônica e a imprensa das classes populares, ou seja, entre a indústria jornalística e a imprensa das classes trabalhadores e dos movimentos sociais, da qual a TVT faz parte.

Por isso, reuniu jornalistas, comunicadores e representantes diplomáticos dos países do Sul Global numa tentativa de furar o que foi chamado de bloqueio midiático. Ou seja, diante não só de ausência de notícias sobre os países da periferia do capitalismo, como da criminalização dos movimentos sociais e das tentativas de soberania desses países, é preciso criar uma aliança dos meios de comunicação contra-hegemônicos.

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Meme Yamal, do México: as redes sociais a favor da integração latino-americana

O que é o Sul Global

O conceito de Sul Global veio na esteira das pesquisas e estudos do decolonialismo. Este conceito entende que os países que sofreram as violências da colonização levam marcas que moldam as respectivas sociedades e economias. São nações que foram impactadas pela escravização e foram condenadas à marginalização do capitalismo, impedidas de caminharem — econômica e politicamente — de caminharem pelas próprias pernas.

Com a tomada de consciência que o destino desses países não estava determinado, mas poderia ser reescrito, houve várias tentativas de emancipação.

Primeiro, com a Tricontinental, nos anos 60, com a inspiração do Vietnã e também de Argélia e de Cuba, vários movimentos de libertação nacional ou de revolução social eclodiram na África, na Ásia e na América Latina.

Depois, inpirados pelos Zapatistas no México e pelo MST no Brasil, a esquerda ganhou novos rumos para a resistência diante da onda neoliberal. Não, a direita e a economia de mercado não venceram a batalha. O século XXI viu crescer a expressão Sul Global para designar as nações que estão à margem do centro do capitalismo e que, mais uma vez, tentam caminhar pelas próprias pernas e, em muitas vezes, na chamada união Sul-Sul, como é o caso dos Brics.

Por influência do pensamento de Gramsci — e mais tarde de pensadores da comunicação como Mario Kaplún, autor do clássico El Comunicador Popular — as classes populares criaram os próprios meios de comunicação para disputar a hegemonia da comunicação com os veículos da indústria jornalística.

É nesse contexto, de veículos contra-hegemônicos e de países da periferia do mundo, que a aliança de jornalistas do sul global foi construída na Venezuela.

Palestina e Irã

Palestina e Irã foram os países mais aplaudidos no encontro. O fórum foi aberto com uma homenagem às vítimas do genocídio em Gaza e contou com falas de jornalistas da Palestina. A grande estrela foi  Sahar Emami, apresentadora do canal de notícias estatal do Irã (IRINN). Sahar apresentava um programa quando a TV foi atingida por um míssil e as imagens viralizaram.

Durante a palestra, Sahar Emami agradeceu o apoio que recebeu de colegas do mundo, principalmente os da Venezuela e disse teve medo, como mãe, mas que o sentimento de patriotismo falou mais alto para voltar diante das câmeras após o ataque do míssil.

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Sahar Emani foi aplaudida de pé. Foto: Cancilleria de Venezuela

Venezuela deseja soberania

O presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez, o equivalente ao presidente do Congresso no Brasil, fez um discurso emocionado ao final do evento. Disse sobre a Venezuela que busca soberania e que deseja paz. Criticou os países imperialistas ao dizer que o exército venezuelano só saiu uma vez do próprio território: quando saiu para libertar a Colômbia, o Peru, o Equador e a Bolívia do domínio do conquistador espanhol.

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Jorge Rodríguez, Presidente da Assembleia Nacional da Venezuela: exército venezuelano só saiu do próprio território uma vez e para libertar a América do domínio espanhol

Café feito no Socialismo

Esse é o lema da fábrica de café venezuelana que produz o café Madrid. O café da Venezuela quer ganhar a projeção que o café colombiano tem. E há qualidade para isso. O café arábica tem sabor aveludado na boca, não precisa ser adoçado e tem a mesma potência que colega colombiano.

Encontros latino-americanos

O mais rico do fórum foi conhecer colegas jornalistas de todas partes do mundo, em especial da América Latina. Honduras, Cuba, El Salvador, Uruguai, Chile, Brasil, Barbados, Jamaica, República Dominicana, entre tantos outros.

E foi da República Dominicana que veio o encontro mais simbólico. Deisy Toussaint, da sexta geração da família de Toussaint Louverture, o libertador do Haiti e líder da primeira revolução de escravizados das Américas. Era como ver a história das lutas populares da América Latina diante dos olhos.

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Deisy Toussaint, descendente do líder da revolução haitiana, Toussaint Louverture

Com a apresentação sobre o livro “Por uma teoria latino-americana e decolonial do Jornalismo”, vários colegas da América Latina quiseram saber sobre a experiência da TVT em falar da América Latina para a América Latina. Abaixo, uma delas, de um canal do Uruguai.

Para a delegação de Barbados, fiz a pergunta que é o centro da minha tese de pós-doutorado. “Somos todos latino-americanos, mesmo não falando a mesma língua, não?”. Ao que a colega de Barbados respondeu: “sim, todos nós sofremos a colonização”.

Ganhei o dia e ganhei a visita.

Na pátria de Bolívar, a América Latina se fez unida, pelo menos por esses dois dias. Oxalá siga assim.

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Uma foto que resume a integração latino-americana na Venezuela
  • Vídeo: Canal 8 de Honduras repercute a aliança de jornalistas do Sul Global

Crédito do Matéria

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