Presidente acusa filho de Bolsonaro de traição à Pátria e rebate Trump com dados e firmeza
Em discurso contundente nesta sexta-feira (25) em Osasco (SP), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparou o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) a Silvério dos Reis — delator da Inconfidência Mineira — e afirmou que a atuação do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro é “ainda pior”, por representar uma traição não apenas a uma causa, mas à própria Nação. Em tom firme, Lula denunciou os pedidos de intervenção feitos por bolsonaristas ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e afirmou que o Brasil não aceitará pressões externas nem mentiras sobre sua soberania.
“O Silvério dos Reis traiu Tiradentes. Mas esse cara está traindo a Nação. Está trocando o Brasil pelo pai. É pior que Silvério dos Reis”, disse o Lula, em referência direta a Eduardo Bolsonaro, que está nos Estados Unidos pedindo ajuda ao presidente Trump para evitar punições judiciais a Jair Bolsonaro. “Vocês na Câmara têm que tomar uma atitude. Esse cara se afastou e foi lá para os Estados Unidos ficar pedindo: ‘Ô Trump, ô Trump, salva meu pai, salva meu pai’”, ironizou Lula.
O pronunciamento ocorreu durante a visita a Osasco, onde o presidente anunciou um investimento de R$ 4,67 bilhões em urbanização de favelas, com foco na melhoria de condições de vida para famílias em situação de vulnerabilidade, através do Novo PAC Seleções 2025 Periferia Viva – Urbanização de Favelas. O evento, no entanto, se tornou palco de um duro recado político após Trump divulgar uma carta em seu site acusando o governo Lula de perseguir Bolsonaro e ameaçando retaliar o Brasil com tarifas de até 50% sobre produtos importados.
Lula classificou a carta como “inaceitável” e disse que o ex-presidente dos EUA foi induzido por mentiras. “Se ele tivesse me ligado, eu teria explicado o que está acontecendo com o Bolsonaro. Ele [Trump] foi mal informado. Bolsonaro não está sendo perseguido, está sendo julgado com todos os direitos de defesa”, afirmou. “Tentou dar um golpe nesse país. Está provado, por delações dos seus próprios aliados, que planejou matar o Lula, o Alckmin e o Alexandre de Moraes.”
Segundo o presidente, o Brasil tem uma longa tradição de boas relações com os Estados Unidos, construída ao longo de mais de dois séculos. “O Brasil não gosta de briga. Eu mesmo, que fiz tantas greves, sempre sentei para negociar. Mas tem coisa que não dá para aceitar”, declarou.
Lula também rebateu os três principais pontos levantados na carta de Trump. O primeiro foi a alegação de perseguição política a Bolsonaro. O segundo, a crítica ao projeto de regulação das big techs, que, segundo o presidente, é necessário para proteger a democracia e os jovens brasileiros. “Essas empresas não podem ficar promovendo ódio, contando mentiras, tentando destruir o Estado democrático de direito”, disse.
O terceiro ponto rebatido foi a queixa de que os EUA estariam em desvantagem na balança comercial com o Brasil. “Neste ano, exportamos para eles 401 bilhões de dólares. Eles exportaram para nós 47 bilhões. Só em serviços digitais, pagamos 23 bilhões a eles no ano passado. Se alguém tem que reclamar, somos nós, e ainda assim estamos negociando”, afirmou.
O presidente ressaltou que a condução do diálogo com o governo norte-americano está sendo feita pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro da Indústria, Comércio e Serviços, junto com o chanceler Mauro Vieira. Um comitê foi criado para tratar da questão, com a participação dos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil) e Carlos Fávaro (Agricultura). Segundo Lula, dez reuniões já foram realizadas com representantes dos EUA antes da publicação da carta de Trump. “No dia 16 de maio, Alckmin e Mauro Vieira assinaram uma carta pedindo resposta. Em vez disso, fomos surpreendidos com essa carta absurda publicada no site do ex-presidente.”
A crítica a Eduardo Bolsonaro e à bancada bolsonarista também foi ampliada. “Esses que usavam a camisa da seleção brasileira e a bandeira nacional, que diziam ser patriotas, agora estão agarrados nas botas do presidente dos Estados Unidos. Isso é traição, sem-vergonhice”, disse. Ele também denunciou o uso de faixas e manifestações por parlamentares brasileiros em apoio ao presidente norte-americano. “É uma pena que ainda tenha gente que não tem um pingo de caráter.”
No final do discurso, Lula reafirmou que quem governa o Brasil é o povo brasileiro. “Eles inventaram uma mentira contra mim, me colocaram 580 dias na cadeia. Quiseram que eu fugisse, que fosse para uma embaixada. Mas eu disse: não troco minha dignidade pela minha liberdade. E tô aqui, de cabeça erguida, presidente da República pela terceira vez”, disse. “Então quero dizer para todo mundo: quem manda neste país é o povo brasileiro.”
Apesar do tom duro, Lula reiterou que o Brasil continuará buscando o caminho da negociação. “Nós estamos tranquilos. Estamos discutindo. Queremos ouvir de verdade o que vai acontecer”, afirmou. “Agora, quero dizer com clareza: eu não quero briga. Mas se quiserem brigar comigo, aí vai ter.”