Instalação tem capacidade para produzir até 100 milhões de ovos de mosquito da dengue por semana e poderá beneficiar cerca de 140 milhões
Em um passo decisivo para o combate às arboviroses, como a dengue, no Brasil, foi inaugurada em Curitiba (PR), no último sábado (19), a maior biofábrica de mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia do mundo. A instalação tem capacidade para produzir até 100 milhões de ovos de Aedes aegypti por semana e poderá beneficiar cerca de 140 milhões de pessoas em 40 municípios prioritários do país. Entenda na TVT News.
A nova fábrica é resultado de uma articulação entre o Ministério da Saúde, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), o Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP), o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar), a empresa Wolbito do Brasil e o World Mosquito Program (WMP). O projeto recebeu um investimento superior a R$ 82 milhões.
“Não existe nenhum lugar no mundo que produz a quantidade de mosquitos que nós passaremos a produzir aqui no Brasil com essa tecnologia inovadora”, afirmou o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, durante a inauguração.
Tecnologia da Wolbachia
A estratégia não utiliza inseticidas, mas sim uma bactéria naturalmente presente em cerca de 60% dos insetos: a Wolbachia. Quando introduzida no Aedes aegypti, ela impede que os vírus da dengue, zika e chikungunya se desenvolvam dentro do organismo do mosquito, bloqueando sua capacidade de transmissão.
Após liberados no ambiente, os mosquitos com Wolbachia se reproduzem com os da natureza, criando novas gerações menos capazes de transmitir doenças. Com o tempo, a presença da bactéria se consolida, reduzindo a necessidade de novas liberações.
Expansão e resultados
A nova biofábrica amplia uma tecnologia já utilizada no Brasil há mais de uma década. Inicialmente produzidos em menor escala na biofábrica da Fiocruz no Rio de Janeiro, os mosquitos com Wolbachia já mostraram resultados expressivos em diversas cidades. Niterói (RJ), por exemplo, viu uma queda de 69% nos casos de dengue após a aplicação do método. O município foi o primeiro a ter cobertura total da tecnologia.
Desde 2023, o Ministério da Saúde ampliou o uso da Wolbachia para 16 cidades consideradas prioritárias, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Londrina, Natal e Niterói. Com a nova unidade em operação, essa cobertura poderá se estender a mais 24 municípios com alto índice de casos.
Além de eficaz, o método apresenta grande economia para os cofres públicos. Segundo estimativas da Fiocruz, cada R$ 1 investido nessa estratégia pode representar uma economia de até R$ 500 em internações, medicamentos e tratamentos.
Estratégia nacional contra a dengue
O combate às arboviroses no Brasil está estruturado em seis frentes coordenadas pelo Ministério da Saúde: prevenção, vigilância, controle vetorial, organização da rede assistencial, preparação e resposta a emergências, e comunicação com a sociedade. A biofábrica em Curitiba integra esse esforço como uma das principais inovações da política pública de saúde.
Além da biofábrica, o Brasil se destaca por ter sido o primeiro país a disponibilizar a vacina contra a dengue no Sistema Único de Saúde (SUS). Mais de 16 milhões de doses já foram adquiridas e, a partir de 2026, o Instituto Butantan deverá iniciar a produção nacional do imunizante, com uma capacidade anual estimada de 60 milhões de doses.
A vigilância epidemiológica também segue fortalecida, com uma rede nacional de laboratórios públicos que monitora os sorotipos circulantes e realiza vigilância genômica. Os dados são tornados públicos, garantindo transparência e agilidade nas ações de controle.
Referência global
Com a nova biofábrica, o Brasil assume protagonismo internacional no uso da Wolbachia para o controle de arboviroses. A tecnologia, hoje presente em 14 países, tem no país o maior centro de produção do mundo — um marco que reforça a importância da ciência, da inovação e da cooperação institucional na proteção da saúde pública.
FAQ – Fábrica combate dengue
O que é a bactéria Wolbachia e como ela ajuda no combate à dengue?
A Wolbachia é uma bactéria que, quando introduzida no mosquito Aedes aegypti, impede o desenvolvimento dos vírus da dengue, zika e chikungunya dentro do inseto.
Essa tecnologia é segura?
Sim. A Wolbachia está naturalmente presente em muitos insetos e não causa doenças em humanos. A estratégia é validada por instituições de pesquisa e já foi aplicada com sucesso em diversos países.
Os mosquitos são geneticamente modificados?
Não. A técnica utiliza cruzamentos naturais entre mosquitos com Wolbachia e os da natureza. Não há modificação genética envolvida.
Essa tecnologia substitui os métodos tradicionais, como uso de inseticidas?
Ela complementa os métodos tradicionais, mas oferece uma solução mais duradoura e ecológica, reduzindo a necessidade do uso de inseticidas químicos.
Quais cidades vão receber os mosquitos da nova biofábrica?
Inicialmente, 40 municípios com altos índices de arboviroses, incluindo cidades como Rio de Janeiro, Niterói, Belo Horizonte, Londrina, Brasília e Natal.