sexta-feira , 11 de julho 2025

Imprensa chama tarifaço de Trump de “coisa de mafioso”

Crítica veio inclusive de veículos tradicionalmente alinhadas com a direita e o mercado. Enquanto isso, Tarcísio defende Trump contra o Brasil

Em editorial incomum para a imprensa hegemônica, o jornal O Estado de S. Paulo condenou a decisão do presidente extremista norte-americano Donald Trump de aplicar uma tarifa de 50% sobre todos os produtos exportados do Brasil aos Estados Unidos. Intitulado “Coisa de mafiosos”, o texto acusa o republicano de tentar chantagear o governo brasileiro, interferir no Judiciário e manipular dados econômicos para fins eleitorais. Enquanto isso, o bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, saiu em defesa de Trump contra o povo e a economia brasileira. Entenda na TVT News.

A decisão de Trump, anunciada ontem (9), causou repercussão internacional e foi considerada uma escalada sem precedentes nas tensões comerciais entre os dois países. O editorial do Estadão destaca que, ao mirar o Brasil com a mais alta tarifa da nova rodada de medidas protecionistas, aplicável a partir de 1º de agosto, Trump busca utilizar o comércio exterior como instrumento de pressão geopolítica.

Trump mafioso

“Trump usa a ameaça de impor tarifas comerciais ao Brasil para obrigar o País a se render a suas absurdas exigências”, afirma o texto. Segundo o jornal, trata-se de uma “mixórdia” motivada por “razões políticas e ideológicas”, entre elas, os processos em curso contra Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal e ações do Judiciário contra plataformas digitais americanas usadas para disseminar discursos antidemocráticos. “Não há outra conclusão a se tirar dessa mixórdia: trata-se de coisa de mafiosos.”

A carta enviada por Trump ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva explicita o caráter político da medida. No documento, o republicano cita nominalmente Bolsonaro e critica o julgamento do ex-presidente, classificando-o como uma “vergonha internacional”. Afirma ainda, sem apresentar provas, que o Brasil promove “ataques às eleições livres” e “violações à liberdade de expressão de americanos”. Como condição para suspender a tarifa, sugere que empresas brasileiras se instalem nos EUA, sob pena de retaliação recíproca.

O Estadão desmonta o principal argumento de Trump para justificar a taxação, o suposto déficit comercial dos EUA com o Brasil. “Os EUA têm um robusto superávit comercial com o Brasil”, diz o texto, apontando que, apenas desde 2009, os americanos acumularam um superávit de mais de US$ 90 bilhões na balança bilateral. “Trump mentiu descaradamente”, conclui o jornal.

Resposta do governo

A resposta inicial do governo brasileiro foi elogiada pelo Estadão. Lula afirmou em suas redes sociais que o Brasil “não aceitará ser tutelado por ninguém” e garantiu que “medidas recíprocas serão adotadas”, caso a tarifa entre em vigor. Também destacou que os processos relativos ao 8 de janeiro de 2023 são de competência exclusiva do Judiciário brasileiro. “O Brasil é um país soberano com instituições independentes”, afirmou.

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Enquanto Bolsonaro planejava um golpe de Estado, Lula segurava a bandeira do Brasil junto a população em 2022. Foto: Ricardo Stuckert/Reprodução.

Tarcísio contra o Brasil

O editorial ainda critica figuras políticas brasileiras que demonstraram alinhamento com Trump, especialmente o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que apareceu recentemente usando o boné vermelho da campanha “Make America Great Again” ao lado do ex-presidente dos EUA. “Vestir o boné de Trump, hoje, significa alinhar-se a um troglodita que pode causar imensos danos à economia brasileira”, dispara o jornal, classificando o gesto como “alinhamento vexaminoso”.

Tarcísio, por sua vez, afirmou nas redes sociais que a culpa pelo tarifaço é do governo Lula. Segundo ele, o atual governo teria “colocado ideologia acima da economia” e “agredido o maior investidor direto no Brasil”, referindo-se aos EUA. O governador, aliado de Bolsonaro e possível presidenciável em 2026, também defendeu que “não adianta se esconder atrás de Bolsonaro”, tentando transferir a responsabilidade para a atual gestão.

O Estadão, tradicionalmente alinhado a setores liberais e conservadores da política brasileira, adota um tom atípico de denúncia e nacionalismo em seu editorial. O texto adverte para os perigos de “confundir os interesses do Brasil com os interesses particulares de Trump e de Bolsonaro”, e alerta que o Brasil não pode se dobrar “aos arreganhos de líderes autoritários e seus associados liberticidas”.

A publicação termina com um chamado à unidade nacional diante da ameaça externa: “Que aqueles que são verdadeiramente brasileiros, seja qual for o partido em que militam, não se permitam ser sabujos de um presidente americano que envergonha os ideais da democracia.”

Diante da gravidade da crise diplomática em curso, a cobrança por uma resposta à altura das ameaças de Trump agora não vem apenas do governo ou da esquerda, mas também de um dos principais porta-vozes da elite conservadora brasileira. Em tempos de pressão externa e rearranjos geopolíticos, o editorial sinaliza que, ao menos neste episódio, a defesa da soberania nacional pode unir diferentes campos do espectro político.

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