Pesquisa mapeou a escolaridade dos cooperados e revelou que 70% dos que não haviam concluído os estudos desejavam obter o diploma
A partir de uma iniciativa educacional da federação de cooperativas de reciclage (Fepacoore), 58 catadores e catadoras de cooperativas de São Paulo (SP) receberão diplomas de conclusão do ensino básico em cerimônia na Casa do Cooperativismo Paulista. A cerimônia acontece no dia 5 de maio. Saiba mais na TVT News.
Mais educação formal entre trabalhadores
Eles fazem parte do projeto “Ser Mais, Ser Juntos”, iniciativa que nasceu em 2023 a partir de um diagnóstico com cooperativas de reciclagem da capital. A pesquisa mapeou a escolaridade dos cooperados e revelou que 70% dos que não haviam concluído os estudos desejavam obter o diploma – demanda que deu origem ao programa.
Combinando EJA (Educação de Jovens e Adultos), metodologia Paulo Freire e cursos técnicos do SENAI, com selo de qualidade do MEC, o projeto de educação celebra agora sua primeira turma formada e anuncia o início da próxima, em 2025, com 63 novos matriculados.
Com o objetivo de expandir o acesso à educação, as novas vagas para este ano incluem tanto EJA (Fundamental II e Médio) quanto cursos técnicos do SENAI, e são voltadas exclusivamente para esses trabalhadores, muitos dos quais nunca tiveram acesso a educação de qualidade.
O projeto de educação já beneficia 16 cooperativas da região metropolitana.
A iniciativa é liderada pela Fepacoore, em parceria com a Eco Cultural, e conta com apoio pedagógico do SESI/SENAI. Juntas, essas entidades estruturam uma formação completa, com aulas regulares, acesso à internet, tutoria individualizada, alimentação e cursos técnicos.
O objetivo é garantir a conclusão dos estudos e, ao mesmo tempo, ampliar as possibilidades de trabalho e geração de renda para esses profissionais.
“Quando um catador entende seu papel na economia circular, ele deixa de ser visto como agente informal e passa a ocupar um lugar de protagonismo social”, afirma Jair do Amaral, Diretor Presidente da Fepacoore e Presidente da Cooperativa Crescer.
Com 25 anos de experiência em projetos socioambientais, Amaral destaca que o conhecimento precisa estar alinhado com a realidade dos cooperados: “Nosso papel é garantir que o aprendizado seja acessível e conectado ao cotidiano desses trabalhadores.”
“A formação transforma não apenas o profissional, mas também a autoestima dos trabalhadores. Ver um catador subir ao palco para receber seu certificado é um reconhecimento público de sua trajetória e de sua luta, reforçando o sentimento de pertencimento a um sistema maior que valoriza e respeita seu trabalho”, afirma Cristiana Abirached, presidente da Eco Cultural e gestora administrativa da Cooperativa Crescer.
O projeto reafirma o compromisso com o quinto princípio do cooperativismo — educação, formação e informação — e está alinhado aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, especialmente nos temas de educação de qualidade, redução das desigualdades e trabalho decente.
A criação e expansão da iniciativa respondem diretamente à demanda por acesso à educação e qualificação profissional entre os trabalhadores da reciclagem.
Quem são os alunos?
O projeto atende, em sua maioria, mulheres (66%), com 57,1% de alunos autodeclarados pardos e 30,2% negros. A faixa etária dos participantes é distribuída da seguinte forma: 14,3% têm entre 18 e 25 anos, 34,9% estão na faixa dos 26 a 35 anos, 28,6% têm entre 36 e 45 anos, 9,5% estão na faixa dos 46 a 50 anos e 12,7% têm 51 anos ou mais.
Apesar de 83% dos participantes terem gostado da escola na infância, os desafios em áreas como matemática (43%) e gramática (30%) indicam a necessidade de uma abordagem pedagógica adaptada às dificuldades específicas dos alunos.
“Esses dados reforçam que não se trata apenas de oferecer uma vaga em sala de aula, mas de construir um ambiente de aprendizagem que respeite a trajetória de cada um”, avalia Jair do Amaral.
“Muitos deles interromperam os estudos por necessidade de trabalho ou falta de acesso à educação. Por isso, nosso foco é oferecer uma formação que seja acessível, prática e conectada com a realidade do dia a dia, promovendo não só o aprendizado, mas também a valorização do papel desses trabalhadores na sociedade.”
Turma 2025
Os critérios de seleção levaram em conta a documentação regular, o tempo de atuação nas cooperativas e o interesse demonstrado pelos candidatos em retomar os estudos.
Dos 63 alunos já matriculados para a nova turma, 51 iniciam agora o Ensino Fundamental, enquanto outros 17 — que acabam de concluir essa etapa — seguem para o Ensino Médio.
A formação será oferecida em três unidades do SESI: Leopoldina (43 alunos), A.E. Carvalho (16) e Guarulhos (4). A meta é atingir 70% de aproveitamento entre os matriculados, com índice de desistência voluntária inferior a 2%, resultado que reflete o alto nível de engajamento dos participantes.
Ao todo, 16 cooperativas estão envolvidas nesta nova fase do projeto.
O projeto conta com uma equipe multidisciplinar de educadores, gestores, consultores e técnicos com ampla experiência em iniciativas socioambientais, cooperativismo e educação popular.
Além de Jair do Amaral e Cristiana Abirached, integram a equipe: Fernando Frias, psicólogo e educador com especialização em metodologias freirianas; Telines Basílio e Alex Luiz Pereira, com atuação destacada na gestão de cooperativas e representatividade em entidades do setor; a consultora Majorie Peralta, especialista em logística reversa e indicadores ESG; e os técnicos Rita Nascimento, Aline Silveira e Artur Zaina, com experiência em projetos socioambientais e culturais.
A estrutura pedagógica inclui ainda tutores e assistente social, que serão selecionados para oferecer suporte contínuo aos estudantes, fortalecendo a permanência e o desempenho nas atividades.
“O programa inclui visitas técnicas que reforçam o aprendizado, oferecendo aos cooperados oportunidades de crescimento e novas perspectivas no mercado de trabalho. A maioria dos participantes vê na conclusão dos estudos a possibilidade de melhorar suas condições de vida, desenvolver novas competências e inspirar suas famílias e comunidades“, enfatiza Alex Luiz Pereira, diretor da Fepacoore e conselheiro do SESCOOP/SP.