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terça-feira, 14 de outubro de 2025 -

A armadilha da imitação

Artigo de Michel Lenz para a TVT News.

A Armadilha da Imitação: Por Que Políticos Iguais Desaparecem na “Prateleira Digital”

Por Michel Lenz

Imagine uma prateleira de supermercado repleta de garrafas de água mineral. No final das contas, o conteúdo é basicamente o mesmo em todas: transparente, inodora, insípida. O que faz você escolher uma marca específica?

É a embalagem, a promessa da marca, a forma como ela se posiciona e se conecta com você. Algumas se destacam pelo design, outras pela história que contam, e algumas pelo vínculo emocional que criam com o consumidor.

Na política contemporânea, acontece exatamente a mesma coisa. Seus valores e propostas podem ser excepcionais, mas se a forma como você se apresenta é igual à de todos os outros políticos, você corre o risco de desaparecer na multidão digital. É exatamente aí que entra a questão da autenticidade versus imitação.​

O Fenômeno das “Dancinhas Políticas”: quando a imitação vira epidemia

Nos últimos anos, testemunhamos um fenômeno curioso: políticos de diferentes níveis embarcando nas famosas “dancinhas” do TikTok. Do presidente do Senado ao vereador do interior, todos parecem ter descoberto a mesma fórmula mágica para “se aproximar do eleitor jovem”.​​ O problema não é o formato em si, é o formato sem propósito e sem coerência com a persona.

Estudos indicam que a maior parte dos políticos analisados não adota, de forma estratégica, dancinhas e conteúdos apolíticos típicos do entretenimento. Paradoxalmente, muita gente insiste nesse caminho, como se o formato, sozinho, garantisse conexão.

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema, protagonizou um exemplo emblemático dessa tendência ao gravar um vídeo “dando saltinhos e apontando para textos que pipocam na tela” enquanto fala sobre redução de gastos públicos. A aparição ilustra perfeitamente como a tentativa de imitar fórmulas prontas que podem soar artificiais e desconectadas.​ Este exemplo não é sobre um caso isolado, e sim sobre um padrão recorrente: quando a forma tenta substituir a substância, a percepção de artificialidade cresce.

Por Que a Imitação Não Funciona na Política?

1. Falta de Autenticidade Gera Desconfiança

Um político que tenta parecer algo que não é, acaba perdendo credibilidade. Esta é uma das verdades mais duras do branding político contemporâneo. As pessoas desenvolveram um radar muito apurado para detectar comportamentos forçados e inautênticos.​

Quando políticos embarcam em tendências apenas porque “está na moda”, eles se tornam apenas mais uma garrafa de água na prateleira, indistinguíveis e esquecíveis. A tentativa de parecer “descolado” ou “conectado com os jovens” muitas vezes produz o efeito contrário.​

2. Homogeneização da Comunicação Política

Muitos políticos confundem autenticidade com exposição excessiva, transformando suas redes em um palco pessoal sem gerar conexão real com as pessoas. O resultado é uma homogeneização preocupante da comunicação política.​

Dancinha no TikTok e Instagram não bastam para atrair o eleitor jovem. A estratégia superficial de imitar formatos populares sem propósito claro não apenas falha em criar conexão genuína, como pode comprometer a credibilidade construída ao longo de anos.​

3. Desconexão Entre Meio e Mensagem

Pesquisas sobre políticos no TikTok mostram um padrão simples: ataques e provocações geram muitos comentários; dancinhas e dublagens rendem visualizações e curtidas. O problema é confundir isso com resultado político.

Engajamento de vaidade (views, likes, comentários “quentes”) quase nunca vira engajamento de valor (confiança, apoio, voto, participação em agendas, captação de demandas).

Esta descoberta expõe um problema fundamental: o engajamento quantitativo não necessariamente se traduz em conexão política qualitativa. Milhões de visualizações em uma dancinha não significam votos ou confiança política.

A Prateleira Digital Está Lotada

Na prateleira digital da política, ser autêntico é o que faz o eleitor escolher você e não o concorrente. Não porque você dança melhor ou tem mais views, mas porque você oferece algo genuíno que ressoa com as necessidades reais das pessoas.

Como resume a metáfora inicial: assim como as marcas de água mineral se diferenciam pela comunicação e posicionamento, políticos se destacam pela autenticidade de sua narrativa e pela consistência entre discurso e prática.

A questão não é sobre se adaptar às tendências digitais, é certo ou errado. A questão é fazê-lo de forma estratégica, mantendo sua essência e focando no que realmente importa: criar conexões genuínas que se traduzam em confiança política duradoura.

Na prateleira digital da política, ser mais uma cópia é garantia de invisibilidade. Ser autenticamente você é a única forma sustentável de ser lembrado pelos motivos certos.

Sobre o autor

Michel Lenz é apaixonado por estratégia, inovação, ideias e projetos, pelos tatames e a filosofia do jiu-jitsu, sua vida é a família (Papai de Alice). Estrategista de Marketing e Comunicação, Fundador e CEO da IntMark – Inteligência de Marketing, Cofundador da Alcateia Política, Sócio/CMO da #Ninjas! Contabilidade, Professor de Jiu-Jitsu na Union Team. Possui MBA em Marketing Político e Comunicação Governamental, MBA em Gestão de Marketing e Comunicação, Bacharel em Sistemas de Informação. Atua com marketing político desde 2016 com campanhas eleitorais e mandato, como estrategista de campanha, estrategista de marketing e comunicação e coordenador de equipe, além de realizar diagnósticos de presença digital.


Os artigos dos colunistas expressão as opiniões individuais da autora ou do autor e não, necessariamente, refletem a opinião da TVT News

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