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quinta-feira, 31 de julho de 2025 -

Jornalismo decolonial: uma proposta latino-americana para o combate à hegemonia

Em Caracas, Alexandre Barbosa apresentou seu livro que traz uma perspectiva latino-americana sobre o jornalismo

Cerca de 80 trabalhadores do jornalismo de países do Sul Global se reuniram nesta quarta-feira (30) em Caracas, na Venezuela, para o evento “Vozes do Novo Mundo”. O objetivo central é a criação da Aliança para a Comunicação do Sul Global, uma iniciativa que busca unificar jornalistas na luta contra o que chamam de “bloqueio midiático da imprensa hegemônica”.

A ação, promovida pelo governo da Venezuela, visa fomentar a solidariedade e a unidade entre os povos do Sul Global. Um manifesto divulgado pelos organizadores destaca a comunicação como uma “arma brutal na guerra multidimensional contra os povos do Sul Global”, e que a unidade é a defesa para acessar a verdade e a paz.

Entre os veículos convidados está a TVT News, representada pelo seu editor, Alexandre Barbosa, que fez uma das palestras do evento. A Aliança para a Comunicação do Sul Global pretende criar redes para difundir “a verdadeira informação, soberania e justiça”, confrontando narrativas impostas por potências hegemônicas e buscando uma ordem mundial multipolar com equidade e inclusão.

A programação do dia 30 de julho incluiu debates sobre os desafios da comunicação no Sul Global, a liberdade de expressão e o impacto da “ditadura do algoritmo” no jornalismo. Outros temas abordados foram a mídia no Oriente Médio, a África sob um olhar decolonial, além do jornalismo na América Latina. O encontro será encerrado com a leitura do documento de fundação da Aliança.

Jornalismo decolonial na América Latina, por Alexandre Barbosa

Autor de Por uma Teoria Latino-Americana e Decolonial do Jornalismo, resultado de sua pesquisa na Universidade Estadual Paulista (2021-2022), Barbosa aponta o isolamento da América Latina na indústria jornalística hegemônica, apesar de sua presença na imprensa popular.

Sua proposta central é atualizar a teoria do jornalismo a partir de uma ótica latino-americana e decolonial. Para isso, ele define a América Latina não apenas geograficamente, mas como um posicionamento geopolítico e histórico que contribui para a unidade da região.

Veja a pauta da palestra:

Por uma Teoria Latino-Americana e Decolonial do Jornalismo é um livro resultado de uma pesquisa profunda realizada na Universidade Estadual Paulista, no Brasil, entre 2021 e 2022. A obra, baseada em pesquisas de mestrado e doutorado, descreve como a América Latina se encontra sozinha na indústria jornalística, mas presente na imprensa popular. Portanto, o debate para a construção de uma comunicação com perspectiva latino-americana reveste-se de importância.

Esta pesquisa aponta para o critério de interesse jornalístico, com abordagem de bibliografias de autores com uma perspectiva decolonial, desde Eduardo Galeano, Simón Bolívar até Catherine Walsh e Walter Mignolo.

Propostas para o jornalismo latino-americano

Apostamos em atualizar a teoria do jornalismo a partir de uma perspectiva latino-americana. Verificamos que a imprensa popular considera a América Latina importante. A indústria jornalística também pode considerar esta região relevante se adotarmos critérios de seleção e construção significativos e decoloniais para a sociedade em seu conjunto.

Trabalhamos com uma definição de América Latina baseada em conceitos decoloniais, vista como uma região com similaridades históricas e geopolíticas. Dessa forma, analisamos os critérios da indústria jornalística para selecionar e construir notícias sobre a América Latina. A partir desse ponto, propomos uma teoria latino-americana e decolonial do jornalismo, que abrange critérios de seleção e construção de notícias para meios de comunicação considerados latino-americanos. Esses critérios podem tirar a América Latina do seu isolamento no jornalismo internacional.

Critérios de interesse jornalístico

Propomos um jornalismo feito a partir de uma perspectiva decolonial e latino-americana, que se configuraria em uma teoria jornalística latino-americana e decolonial, guiada pelas seguintes categorias:

a) Adoção de novos critérios para selecionar e construir notícias: Isso implica selecionar entre os inumeráveis fatos que se tornarão notícia. Para isso, o principal interesse jornalístico é o conceito amplo de América Latina, entendida como um posicionamento geopolítico e histórico, que contribui para a unidade latino-americana acima de idiomas ou fronteiras.

b) Seleção de fontes latino-americanas: Para evitar legitimar o discurso colonial, é imperativo enfatizar fontes historicamente silenciadas: os povos indígenas, as classes mais pobres, as mulheres, as populações LGBTQIA+ e os povos de matrizes africanas.

Nesse contexto, os critérios de interesse jornalístico seriam assim:

  • Escolher fontes que reflitam a diversidade latino-americana.
  • Priorizar as vozes que normalmente não são ouvidas: povos indígenas, pessoas da periferia, pessoas negras, mulheres da classe trabalhadora, etc..

Adotar como valores de interesse:

  • A Cultura latino-americana.
  • Efemérides latino-americanas.
  • Brasil como país latino-americano.
  • Relações Sul-Sul em geopolítica e economia.
  • Luta inabalável contra o racismo.
  • Luta inabalável contra o machismo.
  • Agendas decoloniais: cobertura que inclui erradicação da fome e da pobreza, reforma agrária, desenvolvimento sustentável, preservação do meio ambiente e dos povos indígenas, fortalecimento das políticas públicas e educação pública gratuita.

Na prática: o jornalismo latino-americano na TVT

A TV dos Trabalhadores (TVT) adota critérios jornalísticos latino-americanos e decoloniais. É um canal de televisão aberto (https://tvtnews.com.br/), dos trabalhadores para os trabalhadores, mantido pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e pelo Sindicato dos Bancários de São Paulo. O princípio da TVT é falar para a classe trabalhadora.

Portanto, a agenda da TVT é guiada por:

  • Realçar as vozes ignoradas, como as das mulheres negras, das mulheres indígenas, das classes trabalhadoras, dos mais pobres e das regiões fora do eixo Rio-São Paulo.

Ao escolher uma imagem para ilustrar, utilizar estas categorias:

  • Efemérides e fatos da América Latina.
  • Relações Sul-Sul.
  • A América Latina sempre será priorizada em todos os editoriais.

Crédito do Matéria

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