Educafro cobra r$ 6 milhões por comentário publicado e apagado por Marcelo de Carvalho
A ONG Educafro ingressou com uma ação judicial contra Marcelo de Carvalho, apresentador e um dos donos da RedeTV!, por crime de racismo. O processo foi protocolado no último dia 17 e pede indenização de R$ 6 milhões por danos morais coletivos. A ação tem como base uma publicação feita por Carvalho em sua conta no X (ex-Twitter), já deletada, na qual associa a imagem de um homem negro a um ato criminoso, com generalizações consideradas racistas por organizações do movimento negro.
Na publicação, feita em 15 de julho, Marcelo de Carvalho compartilhou um vídeo de um furto ocorrido contra um irmão do seu filho mais velho, em Barcelona, na Espanha, em que um homem negro, segundo ele, de “aparência africana”, comete o crime.
“Obviamente um sujeito de aparência africana, dos milhões que a Europa deixou entrar, deu uma trombada nele, arrancou o celular e saiu correndo. Ao invés de salvar os muçulmanos africanos, vão acabar com a Europa”, disse Carvalho. O post foi apagado após a repercussão negativa, mas prints circularam amplamente nas redes sociais.
A Educafro afirma que o comentário associa, de maneira genérica, a aparência de pessoas negras à criminalidade. Na ação, a entidade sustenta que a publicação configura racismo e reforça estereótipos nocivos, especialmente quando feita por uma figura pública com projeção nacional. A organização destaca que a mensagem tem “conteúdo discriminatório e racista, ao associar características físicas à prática de delitos” e afirma que o empresário “violou princípios constitucionais da dignidade humana e da igualdade”.
Segundo a Educafro, os R$ 6 milhões pedidos na ação serão destinados a iniciativas de promoção da igualdade racial e inclusão de jovens negros no ensino superior. A entidade também aponta que o objetivo do processo é criar um precedente de responsabilização para casos em que pessoas públicas disseminam discursos preconceituosos.
A publicação causou indignação entre usuários da rede social, ativistas e entidades do movimento negro. Frei David Santos, diretor-executivo da Educafro, declarou em entrevistas à imprensa que “não se pode mais tolerar que pessoas brancas, em posição de poder, continuem criminalizando a população negra de forma impune”.
Marcelo de Carvalho, até o momento, não comentou publicamente sobre o processo. Também não há posicionamento oficial da RedeTV! em relação à ação movida pela Educafro.
O caso repercute em meio ao debate sobre racismo estrutural no Brasil e ao papel das redes sociais na reprodução de discursos discriminatórios. Segundo dados do IBGE e de institutos de pesquisa, pessoas negras são desproporcionalmente associadas à criminalidade nos meios de comunicação, o que reforça estigmas e dificulta o combate à desigualdade racial.
Organizações de defesa dos direitos humanos alertam que postagens como a feita por Marcelo de Carvalho contribuem para a naturalização do racismo e a exclusão social da população negra. A Educafro informou que continuará acompanhando o processo judicial e que deve acionar outras instâncias, caso necessário.