“Os estudantes vão recuperar nossa bandeira e nossos símbolos, de um povo que batalha por um país desenvolvido e justo”, afirma a presidenta
A União Nacional dos Estudantes (UNE) tem uma nova presidenta. Bianca Borges, 25 anos, estudante de Letras do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), foi eleita neste domingo (20) durante a plenária final do 60º Congresso da UNE (Conune), realizado no Goiânia Arena, na capital goiana. Entenda na TVT News.
Conheça a nova presidenta da UNE
Bianca Borges, a nova presidenta da UNE. Representando a chapa “Unidade e coragem em defesa do Brasil”, a jovem paulista obteve 82,6% dos votos dos delegados, consagrando uma vitória com base em ampla unidade entre movimentos de juventude ligados ao PCdoB, PT, PSB, PDT e setores do PSOL.
Natural de Itapevi e criada em Praia Grande, no litoral sul paulista, Bianca é filha de trabalhadores nordestinos e carrega na trajetória pessoal e política a marca das transformações sociais viabilizadas pela educação pública. “Quantas vidas não são mudadas a partir do ingresso na universidade e conseguir um trabalho mais digno? Meu pai era zelador, hoje é motorista de uber, antes cortou cana. Minha mãe trabalhou na roça, depois foi operária em fábrica, até hoje é diarista. E eu hoje posso trabalhar como advogada, o que é uma ascensão de uma geração para outra que é sem precedentes”, afirmou.
“Os estudantes vão recuperar a nossa bandeira e nossos símbolos, de um povo que batalha por um país desenvolvido e justo, não como símbolo daqueles que prestam continência para a bandeira dos Estados Unidos”, afirma Bianca.
Com um discurso incisivo e mobilizador, a nova presidenta da UNE defende uma agenda centrada na ampliação do investimento social, enfrentamento à extrema direita e valorização da educação como instrumento de transformação. Ela critica o arcabouço fiscal e propõe taxar os super-ricos e apostas online como forma de financiar políticas públicas.
“Temos que pensar que a universidade também é parte de um projeto civilizacional, das pessoas terem condições de mudar de vida, de participar do debate público, entenderem o que está acontecendo sem serem manipuladas por gente mal intencionada”, destacou Bianca.

Durante o congresso, Bianca também posicionou a UNE contra as ameaças do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, ao Brasil, dizendo que “ninguém manda no Brasil além dos brasileiros” e que é preciso “resposta firme à chantagem barata” dos que atacam a soberania nacional. Ela também defende punições para os responsáveis pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023: “Não pode haver nova anistia. O país precisa virar essa página com justiça”.
Bianca também prometeu intensificar a luta pela permanência estudantil, ampliar bolsas, valorizar a carreira docente e reencantar a juventude com a política.
Trajetória de resistência na UNE
A militância de Bianca começou aos 14 anos, quando fundou um grêmio estudantil na ETEC de Praia Grande para lutar por melhores condições na escola. Anos depois, ingressou na Faculdade de Direito da USP, onde foi diretora do Centro Acadêmico XI de Agosto e liderou lutas contra medidas de arrocho à universidade. “Sonhava em ser do mesmo DCE que Alexandre Vannucchi Leme fundou”, diz, citando o estudante assassinado pela ditadura militar.
Na gestão da União Estadual dos Estudantes (UEE-SP), Bianca comandou a resistência às tentativas de privatização e militarização da educação pelo governo paulista. Foi protagonista na luta contra a PEC de Tarcísio de Freitas que reduziu o investimento mínimo em educação no estado. “Temos o desafio nas próximas eleições de formar uma frente ampla para enfrentar o bolsonarismo que não seja só eleitoral, mas que seja reunida em torno de uma síntese programática”, criticou.
Congresso histórico da UNE
O 60º Congresso da UNE reuniu cerca de 15 mil estudantes de todo o Brasil em Goiânia entre 16 e 20 de julho. O evento foi marcado pela participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que sancionou a Lei 3.118/2024, destinando recursos do Fundo Social do Pré-Sal para assistência estudantil. Também houve homenagens às vítimas do acidente na BR-153, em Porangatu, Goiás, que estavam a caminho do congresso.
Durante o ato final, os estudantes também participaram do Plebiscito Popular pelo fim da escala 6×1 e por um sistema tributário mais justo.

Um novo ciclo na UNE
Bianca assume a UNE com a missão de liderar a entidade nos próximos dois anos num cenário de intensas disputas políticas. Para ela, a tarefa central será construir uma frente ampla de resistência democrática, com a juventude protagonizando mudanças estruturais.
“Nós acordamos cedo e dormimos tarde enfrentando cotidianamente os desafios da vida de estudante. Somos movidos por profundo amor pelo Brasil e não aceitamos o nosso povo sem acesso à educação e sem direitos”, afirmou.