Ação tem uma clara motivação política e impacto econômico será “muito menor do que Trump supõe”, diz os especialistas
A imposição de tarifas de 50% por Donald Trump sobre as exportações brasileiras, anunciada na noite de quarta-feira (9) por meio de uma carta do presidente estadunidense ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, provocou uma onda de condenação por parte de economistas de renome internacional. Os vencedores do Prêmio Nobel de Economia, Paul Krugman e Joseph Stiglitz, classificaram a medida como economicamente infundada, profundamente política e prejudicial para a economia global. De acordo com a carta, as tarifas terão início em 1º de agosto. Entenda na TVT News.
Tarifas de Trump têm natureza “maligna e megalomaníaca”
Paul Krugman, vencedor do Nobel de Economia de 2008, não poupou críticas à ação de Trump, descrevendo-a como “maligna e megalomaníaca” em seu artigo no Substack, intitulado “Programa de Proteção a Ditadores de Trump“. Ele também a classificou como “demoníaca”, ressaltando o desvio do propósito original do sistema de comércio internacional pós-Segunda Guerra Mundial, que visava promover a paz e fortalecer a democracia global.
Joseph Stiglitz, Nobel de Economia de 2001, por sua vez, caracterizou Trump como um “bully” que utiliza tarifas como arma para “tudo o que não gosta”, incluindo retaliar iniciativas que “desafiam a supremacia do dólar”. Stiglitz advertiu, em entrevista à CNN, que tal uso é “prejudicial, ineficaz e sintomático de uma visão distorcida sobre a economia global”.
Medida de Trump tem motivação política
As análises dos dois economistas ainda ressaltam que a medida possui uma clara motivação política. Krugman enfatizou que Trump “mal finge ter uma justificativa econômica” para as tarifas, apontando como principal razão a intenção de “punir o Brasil por colocar julgar Jair Bolsonaro” após sua orquestrada tentativa de golpe.
Krugman argumenta que a medida megalomaníaca não terá amplo impacto na economia brasileira, já que o Brasil, com mais de 200 milhões de habitantes, exporta menos de 2% de seu PIB aos Estados Unidos. O economista questiona a crença de Trump de que poderia intimidar uma nação tão grande e com pouca dependência do mercado norte-americano a “abandonar a democracia”.
Stiglitz corroborou, afirmando que o impacto macroeconômico das tarifas no Brasil é “muito menor do que Trump supõe”. Ele observou que algumas das exportações agrícolas brasileiras, como soja e sorgo, não são compradas pelos EUA. Dada a natureza do comércio bilateral – o Brasil possui um déficit comercial histórico com os EUA de 48,21 bilhões de dólares ao longo de 28 anos –, Stiglitz considerou a ameaça “inócua” e “sem sentido”.

“Se ainda tivéssemos democracia, essa manobra seria motivo para impeachment”
Krugman foi incisivo ao afirmar que, se os EUA “ainda tivessem uma democracia em funcionamento”, a “manobra contra o Brasil seria, por si só, motivo suficiente para um impeachment de Trump”. Ele vê a ação como “mais um passo terrível na espiral de decadência” do país norte-americano. Stiglitz associou o crescente nível de desigualdade nos EUA à “concentração de poder” e ao “autoritarismo”, reflexos observados nas ações de Trump.
Lula afirmou que o Brasil “não aceitará ser tutelado por ninguém” e que a elevação unilateral de tarifas será respondida com base na Lei brasileira de Reciprocidade Econômica. A abordagem do presidente brasileiro foi elogiada por Stiglitz, que a considerou inteligente, uma vez que Lula não impôs tarifas recíprocas imediatas aos EUA, que poderiam prejudicar o próprio Brasil ao encarecer as importações.
O economista também se referiu a expressão “TACO: Trump Always Chickens Out” (Trump Sempre Amarela) para descrever a inconsistência de Trump em recuar de suas ameaças tarifárias. Stiglitz apontou a visão “peculiar” e contraditória de Trump de desejar o dólar como moeda de reserva mundial, mas ao mesmo tempo querer um dólar fraco, chegando a sugerir forçar a troca de títulos do tesouro por papéis sem juros, ação que poderia minar a confiança na moeda.