Derivação Ventrículo Peritoneal (DVP) trata a hidrocefalia normobárica, causada pelo acúmulo de liquido nos ventrículos cerebrais
O cantor e compositor Chico Buarque de Hollanda passou por uma cirurgia neurológica na manhã de terça-feira (3). O procedimento, conhecido como Derivação Ventrículo Peritoneal (DVP), foi realizado para tratar de um quadro de hidrocefalia de pressão normal (HPN). A recuperação de Chico tem sido tranquila e o artista deve receber alta em breve. Saiba mais em TVT News.
Hidrocefalia de pressão normal e a Derivação Ventrículo Peritoneal
A hidrocefalia normobárica, também chamada de hidrocefalia de pressão normal (HPN), é uma condição causada pelo acúmulo excessivo de líquido nos ventrículos cerebrais e costuma ser comum em pessoas acima dos 60 anos. Ela ocorre quando há uma redução na absorção do líquido cérebro-espinhal, que é produzido e renovado naturalmente a cada 24 horas. O acúmulo desse fluído pode levar a um aumento da pressão intracraniana.
Para tratar Chico Buarque, foi realizada a cirurgia de Derivação Ventrículo Peritoneal (DVP). Considerada de complexidade intermediária, a DVP consiste na implantação de uma válvula dentro do ventrículo cerebral, por meio de um pequeno orifício de 2 centímetros no crânio. Essa válvula é conectada a um cateter que é guiado por dentro do corpo até o abdome. Quando a pressão no cérebro aumenta, a válvula se ativa, drenando o excesso de líquido para o abdome, onde é absorvido pela corrente sanguínea e posteriormente eliminado pela urina. Atualmente, são utilizadas válvulas programáveis, que permitem o ajuste da quantidade de líquido drenada mesmo após a implantação.
Sintomas e diagnóstico da hidrocefalia de pressão normal

Os sintomas da hidrocefalia normobárica podem ser facilmente confundidos com o processo natural de envelhecimento, o que pode dificultar o diagnóstico precoce. Entre os sinais de alerta estão:
- Desequilíbrio de marcha, com a característica “marcha magnética”, onde o paciente tem dificuldade em tirar os pés do chão para caminhar;
- Redução na capacidade cognitiva ou motora;
- Distúrbios esfincterianos, como incontinência urinária e fecal.
- Outros sintomas incluem dor de cabeça, náuseas, sonolência, alterações na visão, fraqueza muscular e convulsões.
O diagnóstico é feito por meio de avaliação clínica dos sintomas e confirmado com exames de imagem, como ressonância magnética ou tomografia do cérebro, além do “TAP test”, um exame específico. Muitos casos são idiopáticos (sem causa conhecida), mas a hidrocefalia também pode ser secundária a eventos como trauma craniano ou meningite.
Fernando Gomes, neurocirurgião e professor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, alerta que se a HPN não for diagnosticada e tratada a tempo, a condição do paciente pode ser irreversível. “A pessoa pode ficar totalmente incapaz de andar, evoluir para um quadro demencial sério e de incontinência urinária e fecal. É uma condição bastante complicada. A pessoa não morre diretamente por hidrocefalia de pressão normal, mas tem a vida abreviada por questões que vêm em conjunto com essa piora das condições de saúde”, disse o especialista à Agência Brasil.
No caso de Chico Buarque, a necessidade da cirurgia foi detectada precocemente durante um check-up de rotina. O diagnóstico precoce foi crucial, prevenindo que o problema afetasse a fala e os movimentos do paciente a longo prazo. A cirurgia permitirá que Chico recupere as funções prejudicadas assim que a drenagem for normalizada, explica Gomes.