Bike SP está em fase piloto aguardando término dos testes e regulamentação da prefeitura
Um programa em fase piloto na cidade de São Paulo pode dar incentivo financeiro a quem pedala na capital. Para incentivar o transporte não motorizado, o Bike SP propõe que o uso da bicicleta seja revertido em acúmulo de créditos no Bilhete Único. Entenda em TVT News.
Como funciona o Bike SP
Em 2016, o então prefeito Fernando Haddad (PT) sancionou a lei para criação do Bike SP, mas a iniciativa não foi para frente por falta de regulamentação, explica Renata Falzoni (PT). Desde janeiro, a vereadora está trabalhando com a prefeitura e a Universidade de São Paulo (USP) para produzir estudos que embasem o programa e determinem como ele será executado.
O projeto está em uma fase piloto e passando por testes com um grupo de ciclistas voluntários. Os estudos pretendem entender se é possível implementar a política na prática. Não há previsão de quando os testes serão finalizados, mas Renata diz que para o programa ser implementado, faltam a regulamentação pela prefeitura e o término dos testes para checar a necessidade de possíveis ajustes no sistema.
Nesta etapa, um aplicativo foi desenvolvido pelo Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP. O sistema do Bike SP permite que o ciclista registre o endereço de casa e do trabalho e, a cada viagem realizada, receba crédito direto no Bilhete Único. Renata explica que o financiamento do programa será definido com a regulamentação. Até o momento, o projeto está sendo financiado pelo IME-USP, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV).
A vereadora detalha que o custo se baseia no valor da tarifa do transporte coletivo. Quando um passageiro paga R$ 5 na passagem do ônibus, a prefeitura inteira o valor com R$ 6,87 de subsídio. Com o Bike SP, o usuário de transporte público economizaria o preço da passagem e a prefeitura devolveria uma parcela do subsídio a ele em forma de crédito.
O crédito é calculado por quilômetro pedalado. Na fase piloto do Bike SP, essa quilometragem é baseada em uma rota estimada feita entre o ponto de origem e destino da viagem. Antes da regulamentação, não é possível dizer exatamente como será na prática.
Invisibilidade da bicicleta no Brasil
O Brasil sempre manteve a invisibilidade da bicicleta como política programada, critica Renata Falzoni. Para promover a indústria do automóvel, o Brasil deixou de enxergar o principal meio de transporte da população, que era a bicicleta, continua a vereadora.
O objetivo do Bike SP é melhorar a mobilidade de São Paulo e integrar a bicicleta com os modais públicos de transporte, que são mais sustentáveis e eficientes que o automóvel. A pesquisa Origem e Destino (OD) de 2023, sobre mobilidade urbana em São Paulo, registrou um aumento das viagens de bicicleta em 25% de 2017 para 2023, indo de 377 mil para 472 mil.
O aumento ocorreu em todas as faixas de renda, mas ainda representa uma pequena parcela de todos os 35,6 milhões de deslocamentos que ocorreram entre agosto de 2023 e maio de 2024. Em tese, o Bike SP pode aumentar esses números, com mais pessoas optando pelo transporte ativo, no lugar do motor.

O problema da invisibilidade está nas próprias nomenclaturas, defende Renata. No Código de Trânsito, a bicicleta é classificada como um “transporte não motorizado”. “Os pedestres e os ciclistas são os não motorizados, aqueles que atrapalham o trânsito deles [motorizados]. A gente perdeu o direito de vida na rua”, critica.
São Paulo tem 743 km de ciclovias. Entre as gestões de Bruno Covas (PSDB) e Ricardo Nunes (MDB), nos últimos quatro anos, apenas 16% da quilometragem de ciclovias prometidas foram entregues. A vereadora avalia que falta muito para a infraestrutura cicloviária da cidade de São Paulo chegar ao desejável, mas “a situação nas zonas Norte, Leste e Central é razoável”.
A estrutura cicloviária existente precisa de manutenção, mas é sucateada pela falta de pintura e transformação em estacionamentos. Para Renata Falzoni, “o viés da gestão é ‘eu não vou incomodar os automóveis’, ‘não vou fazer as ruas servirem para mobilidade ativa e transporte coletivo’, é tudo para o automóvel”.
O uso de bicicletas como alternativa ao transporte motorizado passa também por uma questão ambiental. De acordo com o Inventário de Emissões Atmosféricas do Transporte Rodoviário de Passageiros no Município de São Paulo, lançado em 2017, carros particulares carregam 30% dos passageiros, mas são responsáveis por cerca de 73% dos gases de efeito estufa. Então, pedalar reduz os gases poluentes e mitiga as mudanças climáticas.
Um estudo de 2022 publicado na revista Communications Earth and Environment concluiu que se toda a população pedalasse 1,6 km por dia, as emissões de CO2 mundiais seriam reduzidas em 414 milhões de toneladas. Hoje, o mundo emite em torno de 35 bilhões de toneladas do gás.