Morte de menina de 8 anos acende alerta para a regulamentação das redes sociais
A morte de Sarah Raíssa Pereira de Castro, de 8 anos, não foi a primeira causada por influência das redes sociais. No último dia 10, uma quinta-feira, a menina deu entrada no Hospital Regional de Ceilândia (HRC), no Distrito Federal, com uma parada cardíaca após participar de uma trend perigosa que viu no TikTok. Saiba mais em TVT News.
O “Desafio do Desodorante”, como os usuários da rede chamam, é um desafio que consiste em inalar uma alta quantidade de desodorante aerossol pelo maior tempo possível. A prática motiva uma intoxicação que leva à uma sensação singular de torpor, que pode resultar em uma parada cardiorrespiratória e ocasionar a morte, como aconteceu com Sarah.
De acordo com a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), a pequena foi reanimada por 60 minutos, mas não apresentou reflexos neurológicos, culminando na constatação de morte cerebral.
A PCDF agora investiga as decorrências da morte de Sarah, desde os criadores e usuários que compartilharam vídeos do desafio, até o TikTok, que terá de prestar esclarecimentos ao órgão.
“Os envolvidos poderão responder por homicídio duplamente qualificado (por emprego de meio capaz de causar perigo comum e por se tratar de vítima menor de 14 anos), crime cuja pena pode chegar a 30 anos de reclusão”, declarou a Polícia Civil em nota.
Desafio do desodorante fez mais vítimas
O primeiro registro que a reportagem pôde encontrar do desafio do desodorante na internet, é de 2016. Na época, o desafio foi apresentado por um youtuber jovem, que orientava como borrifar o desodorante aerossol em um saco de plástico para inalar o quanto conseguisse da substância. O objetivo era ter uma sensação similar ao da droga conhecida como lança-perfume: euforia, excitação e um falso relaxamento.
Além de Sarah, o desafio já fez outras vítimas. Brenda Sophia Melo de Santana, de 11 anos, morreu em 9 de março no Hospital Municipal Dr. Miguel Arraes, em Bom Jardim (PE) após aspirar a mesma substância. A família de Brenda relata que a garota tinha o hábito de inalar o desodorante, tendo sido repreendida várias vezes. Ela foi reanimada por 40 minutos pela equipe médica, mas não resistiu.
Em 5 de abril de 2019, um adolescente de 12 anos faleceu no Hospital Dom João Becker, em Gravataí (RS), vítima de uma parada cardiorrespiratória também por conta da inalação do desodorante aerossol. Em fevereiro de 2018, Adrielly Gonçalves, de 7 anos, morreu sob as mesmas circunstâncias, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Casos anteriores foram noticiados pela mídia desde 2017.
Similares à outros desafios que ficaram famosos nos últimos anos na internet — como o “desafio da canela”, que consistia em engolir a especiaria pura, o que poderia causar sufocamento e lesões graves no pulmão; ou o jogo da “Baleia Azul”, que induziu crianças e adolescentes à participarem de uma série de desafios altamente perigosos, com casos que englobaram automutilação e suicídio — , o “desafio do desodorante” é apenas um dos riscos que todos os dias, crianças e adolescentes de todo o mundo estão expostas nas redes sociais.
De conteúdos com apologia à violência, racismo e nazismo, à casos de aliciamento e exploração sexual de menores, as plataformas digitais são terra fértil para a exposição descontrolada dos jovens, muitas vezes apresentados em contextos invertidos e recheados de fake news. A saída mais eficaz no momento, talvez, seja a da regulamentação das redes sociais, de forma que possa frear a atual tendência nociva das redes, que já demonstrou ser efetiva até para eleger governos na base de mentiras e informações falsas.
A primeira-dama do Brasil, Janja Lula da Silva, comentou na noite de terça-feira (15), em um vídeo no seu perfil do Instagram, a necessidade de uma regularização das redes.
“É urgente a regulamentação das redes sociais. A gente precisa proteger a vida das nossas crianças e dos nossos adolescentes […]. As redes sociais não podem ser uma terra de ninguém, não podem levar a vida das nossas crianças”, exclamou Janja. A primeira-dama ainda prestou solidariedade à família de Raíssa, e reforçou que continuará trabalhando para que o projeto de regulamentação das redes seja aprovado o mais rápido possível.
“Mais do que nunca, é urgente pensar a questão das plataformas digitais”
O jornalista e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé, Altamiro Borges, participou do TVT News Primeira Edição e comentou sobre o caso de Sarah.
Para Altamiro, é importante investigar quem lançou o desafio nas redes sociais, mas é primordial a regulamentação das plataformas digitais, já que as políticas das Big Techs não são transparentes e nem controladas, buscando sempre apenas a compensação financeira.